Gostaria de contribuir com o tema da restrição dos ônibus fretados em São Paulo, visto que sou morador de São Vicente-SP (litoral) e trabalho na capital, e até pouco tempo atrás era usuário dos fretados.
Utilizei este serviço por quase 2 anos, e posso dizer que trata-se de uma opção de transporte bastante confortável, e com uma boa relação custo/benefício.
Devido ao fato de que não tenho horário para encerrar o expediente, tive que abrir mão dos fretados, passando a utilizar o transporte público (ônibus comercial + metrô).
Claro que o conforto caiu dramaticamente, e por outro lado, o custo do transporte também caiu quase 50%. Em resumo, valeu a pena para a minha situação em particular.
Sobre a discussão da restrição dos fretados, sou a favor não da extinção dos mesmos, mas do estabelecimento de regras. Assim como o transporte público procura funcionar sob regras bem claras, entendo que os fretados também deveriam funcionar sob regras igualmente claras e fundamentadas. Sabemos que São Paulo já sofre com o trânsito sobrecarregado, e perdermos muito tempo dentro do veículo. Os moradores da capital naturalmente também são penalizados, pelo acúmulo de automóveis. Acredito que a prefeitura possa até estar buscando uma melhora na qualidade do trânsito, implementando várias medidas, como o rodízio de carros, a construção de novas vias (viadutos, o próprio rodoanel, e assim por diante), ampliar as linhas de metrô, dentre outras medidas.
Mas, pelo que me parece, restringir o acesso ao centro de São Paulo, no meu modo de entender, cria uma limitação para o próprio crescimento econômico do município e conseqüentemente do país, visto que diversas pessoas – e suas respectivas empresas para as quais trabalham – irão sofrer com atrasos recorrentes e com a baixa qualidade dos meios de locomoção. Acredito que o espaço geográfico-físico de São Paulo já não comporta tanta gente, que vêm de todo país e do exterior. Imagino que isso também deva ocorrer nas grandes metrópoles do mundo (Nova York, Tóquio, Cidade do México, Pequim, etc). Eu mesmo pego o metrô diariamente, e o sufoco é tremendo: viajamos em boa parte do trajeto totalmente espremidos, como numa verdadeira “lata de sardinha”.
Se fizéssemos uma lista de idéias para resolver este problema, creio que poderia acrescentar o seguinte:
1- Expansão das linhas do metrô: se houver espaço e condições suficientes no subsolo da cidade, as linhas do metrô precisam de ampliação, para alcançar regiões ainda não atendidas e levar os passageiros para as mesmas regiões já atendidas (seus locais de trabalho), porém criando novos pontos de parada para este meio de transporte (se houver espaço para a criação de tais pontos).
2- Deslocamento de empresas para outras regiões / criação de outras unidades ou filiais: Já que a maioria das empresas que mais empregam encontram-se concentradas em determinadas regiões da cidade, possivelmente a criação de unidades operacionais em pontos distintos do município favoreceria a dissipação do aglomerado humano, causando uma dispersão dos deslocamentos maciços, permitindo que a concentração de pessoas seja melhor distribuída.
3- Implementação do trabalho remoto (home-office): algumas funções e tarefas permitem que as pessoas trabalhem remotamente, a partir de suas próprias residências ou de qualquer outro lugar que ofereça acesso à Internet. Dentro dessa filosofia, as empresas poderiam possibilitar que os funcionários comparecessem fisicamente à empresa somente algumas vezes por semana, quando isto fizer-se necessário. Esta medida causaria imediatamente a redução no trânsito de pessoas. Quem sabe, teríamos um “rodízio de pessoas” (em determinados dias da semana, as pessoas trabalhariam em casa).
4- Criação de horários flexíveis: sabemos que todos nós temos horários em que rendemos mais ou menos. Alguns, trabalham muito bem na parte da manhã. Outros, rendem bastante à tarde, e há quem produza extremamente bem no período noturno. Aqui na empresa, temos a flexibilidade no horário do expediente, embora o leque de opções não seja tão extenso. Assim, considerem as seguintes opções de expediente: 7h às 16h, 8h às 17h, 9h às 18h, 10h às 19h, 11h às 20h e assim por diante. Esta flexibilidade poderia ser ajustada em cada uma das empresas, fazendo com que a quantidade de pessoas em deslocamento (na entrada e na saída do expediente) fosse distribuída ao longo do dia, desafogando os meios de transporte.
Algumas dessas medidas poderiam inclusive contribuir para a melhoria no tempo de qualidade com nossas famílias, uma vez que temos vários exemplos, os quais podemos citar, de pessoas que passam quase 20h por dia (ou até mais) longe de seus cônjuges e filhos, e que normalmente sentem o impacto, muitas vezes negativo, da ausência de seus entes queridos.
Creio que teríamos também beneficiadas nossas relações sociais e na comunidade em que vivemos, pois teríamos tempo adicional liberado para desempenhar outras tarefas e exercer outras atividades – que estão latentes e impedidas de manifestarem-se pela ausência de tempo – as quais não se resumem apenas em nossos atributos profissionais e corporativos. Em resumo, poderíamos viver mais plenamente.